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Ditadura de terapeutas.

Ditadura de terapeutas.
Felipe Gruetzmacher
abr. 11 - 3 min de leitura
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Em virtude da grande diversidade de comportamentos, hábitos e preferências, como diagnosticar uma síndrome (Asperger, por exemplo)?

Sou Felipe Grurtzmacher, 30 anos e resido em Blumenau.

Atuo como auxiliar administrativo numa repartição pública e tento empreender.

 

No passado, quando estava com 18 anos, fui diagnosticado como Asperger, após uma frustrada tentativa de suicídio na escola.

Tentei me jogar da janela do segundo andar, em plena aula de química.

Enfim: Sei da dificuldade que é arranjar bons especialistas, bons diagnósticos para tratar de deficiências, doenças e síndromes específicas.

Até porque descobri que não tenho Asperger.

Depressão juvenil não é a mesma coisa que dificuldade de introsamento ou poucas competências socias.

Porque todas as turmas da escola onde estudei faziam piadas grosseiras sobre mim.

Depois de uma adolescência problemática, ingressei na terapia para tratar da minhas supostas dificuldades sociais e da escolha vocacional.

 

Nas consultas, o aconselhamento sempre seguia o roteiro de respostas fáceis:

 

*Ir para as baladas para "pegar" mulheres

*Convidar garotas para ir para o cinema e pedí-las em namoro.

*Fazer mestrado/doutorado/faculdade

*Prestar concurso público

*Acreditar em Deus

*Ter esperança e assim por diante

 

Quando eu falava que não me via num cargo de professor universitário ou na estabilidade de um cargo público, chamavam-me de preguiçoso, porque não apresentava nenhum caminho alternativo.

Até tentava argumentar que não me sentia bem indo para o cinema ou numa balada... E quando acontecia isso, chamavam-me de tímido ou de Asperger teimoso.

Bem, não preciso pagar para alguém falar coisas tão simples e me julgar como pessoa com pouca inteligência social porque não acato essas sugestões ou porque detesto ir numa terapia.

Mais tarde, no início da idade adulta, descobri o conceito de Startup (um caminho extremamente mais difícil do que concurso público ou um emprego comum), porém, muito mais recompensador.

Até me obriguei a convidar garotas para o cinema (por recomendação de terapeutas), somente para ser ignorado.

Quando eu expressava meu descontentamento, terapeutas batiam na mesma tecla:

 

*Olhe pelo lado bom da vida.

*Não fique se fazendo de coitado.

*A vida é assim mesmo... Se você opta por um caminho, sempre terá algum tipo de ônus.

 

Obviamente, são palavras de consolo. 

E um ombro amigo é, apenas, um ombro amigo.

Um desabafo é um desabafo.

Não é um caminho real e prático para se desvinciliar dessas aflições.

 

E então: Se não há regras para a vida, por conta das incertezas e da ambiguidade no comportamento humano, o que a terapia pode fazer pelo paciente?

Esse texto é muito mais para discutir a questão da qualidade do aconselhamento fornecido pelos profissionais da saúde mental.

 

Nesse mundo contemporâneo, com a solidão considerada como problema de saúde pública, precisamos ressignificar a ciência da psicologia e no modo como aconselhamos pessoas próximas.

Esssa missão ganha ares de urgência no trato da pessoa com deficiência, porque o pior preconceito sempre será o diagnóstico equivocado e um conselho descontextualizado.

 

 

 

 

 

 


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