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A deficiência "invisível" do meu filho

A deficiência "invisível" do meu filho
Beatriz Yuki
ago. 2 - 4 min de leitura
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Acredito que muitas famílias que estão por aqui já devem ter enfrentado o olhar curioso das pessoas. O olhar de estranheza ou crítica para a deficiência dos nossos filhos, seja ela física, intelectual, auditiva, visual. Dói. Machuca lá dentro ver no rosto das pessoas a expressão de terem visto algo que lhes causa dó ou repulsa.

Eu sei, usei palavras fortes. Mas é isso que vejo não raramente quando cautelosamente digo para monitores em brinquedos/festas/escola que "ele tem deficiência na perna direita e isso afeta o caminhar e o equilíbrio. Você pode ajudá-lo se ele precisar?".

A deficiência do meu filho é pouco visível e pode até passar despercebida por olhos não muito atentos. Se ele estiver sentado, por exemplo, você não nota nada fora dos padrões. Porém, ele tem encurtamento de tendão de Aquiles na perna direita (pé equino) e a forma mais prática de explicar para vocês que não o conhecem é que ele manca,  perde o equilíbrio mais facilmente por conta dessa instabilidade, cai um pouco mais do que uma criança "normal" e tem um reflexo mais lento para tentar evitar suas quedas.

Essa deficiência, que eu aqui vou chamar de "invisível", é ignorada por grande parte das pessoas leigas. Isso nos faz passar por algumas situações constrangedoras. Recentemente passei por duas e quero compartilhar com vocês.

Fui com minha família no Outback do shopping Eldorado, em SP, e ao pedir uma mesa para nós avisei sobre a deficiência do meu filho e pedi para nos colocar na fila de prioridade. A atendente me olhou com cara de surpresa franzindo a sobrancelha e olhando meu filho da cabeça aos pés por mais de uma vez.

Lembram que comentei que parado quase não dá para perceber a deficiência dele? Pois bem, ela continuou olhando para o meu filho e acho que não identificou o motivo dele ir para a fila de prioridade porque fez uma cara de desconfiada, anotou algo na prancheta e mudou de um atendimento simpático para um sem sorriso e gentileza.

Fui sentar no espaço de espera me sentindo muito envergonhada. E conforme os minutos foram passando a tristeza me consumia. Por sorte, meu filho, que já tem seis anos, não percebeu a situação. Mas, a situação toda não havia terminado: na hora de ir para a mesa, enquanto me dirigia até ela, a observação desconfiada de que a prioridade era uma fraude continuou. 

Ontem, ao visitar uma amiga em um prédio residencial, pedi para estacionar o carro mais próximo da entrada da torre para facilitar o acesso do meu filho. Mais uma vez, expliquei que ele tinha deficiência e o segurança começou a olhar dentro do carro para ver ONDE estava a deficiência dele. Mais uma vez "invisível", a deficiência foi questionada "você está com o laudo? você tem o selo de identificação?". Eu nem tive tempo de responder...essas situações me deixam sempre atônitas. Ele percebeu a situação e me deixou seguir.

Esses fatos me lembraram de um amigo com deficiência em uma das mãos. Ele é jovem, forte, moderninho e muitas vezes, quando ele está na fila preferencial de mercados e lojas, recebe ataques de pessoas idosas ou não que não vêem o tal motivo aparente dele usufruir de seu DIREITO! Apenas quando ele mostra a mão, as pessoas se desculpam e enxergam o que julgam ser necessário ver.

Até quando vamos viver dessa forma?

Vale lembrar que os direitos das pessoas com deficiência não aparente são válidos igualmente aos de pessoas com deficiência visíveis. Porém, a sociedade ainda não entendeu que atendimento preferencial vai além da presença de uma cadeira de rodas, uma muleta, uma bengala ou idade avançada.

Deixo aqui o meu relato entristecido, mas ao mesmo tempo para dizer a outras famílias que vocês não estão sozinhas nessas situações. Devemos ter mais coragem e ânimo para reagir quando coisas desse tipo acontecem com a gente e nossos filhos, alunos, pacientes, amigos. Juntos somos mais fortes e podemos construir, pouco a pouco, um mundo mais respeitoso e inclusivo.

 


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