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Meu filho nasceu com o pé torto congênito e soubemos no parto

Meu filho nasceu com o pé torto congênito e soubemos no parto
Joselene Andrade
mar. 26 - 6 min de leitura
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Me chamo Joselene Andrade. Sou casada, dona de casa, moro na zona rural de Itamonte, em Minas Gerais, e sou mãe o Gabriel  que está com um ano e nove meses de vida. Sou nova por aqui, mas lendo tantas histórias que me ajudam a seguir em frente, resolvi contar um pouco da minha e tentar de alguma forma ajudar outras mães e famílias que enfrentam algo parecido.
 
Dois dias antes do nascimento do meu filho, passei no meu médico e fiz a última ultrassonografia. Lembro-me dele dizer "você vai voltar logo". Ele já sabia que estava tudo pronto para o Gabriel nascer. 

Dois dias depois eu estava de volta no hospital pra dar a luz ao meu filho. A bolsa rompeu era final da tarde, quando eu já estava com 38 semanas de gestação. Meu esposo chegou do trabalho eu falei pra ele "acho que tem gente aqui querendo nascer". Meu marido ficou nervoso, mais do que eu (RS), e logo seguimos para a maternidade. Lá encontrei com minha mãe e fui internada às 19h, do dia 15/06/18. 

O médico me examinou e informou que estava tudo certo para o parto normal. A previsão era de meu filho nascer, provavelmente, só na manhã do dia seguinte ainda mais sendo o primeiro parto que, geralmente, demora um pouco mais. 

A caminho do hospital não sentia dor nenhuma, parecia que eu estava indo passear. Mas, após a internação as dores ficaram cada vez mais intensas até que examinaram e viram que já estava na hora mesmo. Me levaram para a sala de parto e no dia 16 de junho de 2018, às 2:12 da madrugada, meu guerreiro chegava ao mundo. 

Guerreiro porque ele foi valente pra nascer, o tempo de trabalho de parto foi quase a metade do que o médico tinha previsto e também porque a partir daquele momento iria iniciar a luta do tratamento do Pé Torto Congênito (PTC). 

Até então eu tinha vivido o lindo sonho de ter meu primeiro filho. Dali em diante tive que aprender a ser mãe de uma criança de PTC, como chamamos as crianças que nascem com o Pé Torto Congênito. 

Eu dormi logo após o Gabriel nascer e ele foi levado para outro lugar. Ao despertar, perguntei dele e as enfermeiras me informaram que haviam levado ele para a encubadora. "Vamos deixar ele lá até amanhecer, porque a nossa região é muito fria". Era uma madrugada fria de inverno. 

Como eu estava muito exausta do parto, fiquei tranquila. Me levaram para o quarto e chegando lá minha mãe perguntou se eu estava bem. Eu disse que sim, apesar de muito cansada e continuei dormindo. 

Hoje eu sei que, assim que ele nasceu, a enfermeira chamou "vovó, venha conhecer o seu netinho". Ela foi toda ansiosa e achando estranho porque não não tinha escutado o choro do nascimento. Chegando lá, ficou emocionada por ver seu primeiro neto pela primeira vez e, ao mesmo tempo, levou um choque ao ver os pezinhos dele torto. Perguntou na hora para a  enfermeira "O que tem os pezinhos dele?". A enfermeira respondeu “Pode ficar tranquila, vó. Ele tem um probleminha, mas tem tratamento. É coisa simples”. 

Enquanto eu dormia minha mãe ficou preocupada com a cena dos pezinhos na cabeça, sem saber como seria a partir dali. Ao amanhecer, as enfermeiras foram ver como eu estava. Eu já estava acordada e logo perguntei "Cadê meu filho? Vocês vão trazê-lo?". Eu ainda não o conhecia. Uma delas chegou a dizer que o Gabriel não havia chorado ao nascer, mas que ele estava bem e que podia ficar tranquila.  "Vamos só esperar o pediatra chegar para examinar e ver se tá tudo certinho", explicou a enfermeira. 

Ainda perguntei preocupada se tinha algum problema não chorar ao nascer e uma das enfermeiras falou "eu também não chorei quando nasci e isso nunca foi problema pra mim". Falaram novamente para eu ficar tranquila porque ele estava super bem, era só precaução.

Nessa hora outra enfermeira falou “ele tem um probleminha no pé. É coisa simples, tem tratamento, pode ficar tranquila. Vão fazer um gessinho na canelinha dele”. Por não saber o que estava acontecendo nem conhecer o tratamento, imaginei que seria uma "argolinha de gesso" na canela dele. 

Logo elas saíram e eu perguntei para a minha mãe se ela sabia do pezinho. Ela me falou que tinha conhecido o Gabriel, viu e perguntou à enfermeira que havia respondido a mesma coisa para ela. Minha mãe, mesmo preocupada, não quis me preocupar ainda mais Afinal, eu estava me recuperando do parto. 

As enfermeiras tinham dito que se eu quisesse conhecê-lo eu poderia ir porque ele estava bem pertinho do quarto onde eu estava. Apesar do cansaço, tomei um banho, me troquei e fui conhecer meu filho. Eu estava ansiosa e desconsolada por ele não estar comigo nos meus braços. 

                                                                         Gabriel

Quando o vi pela primeira vez me emocionei. Era meu pedacinho de gente. Como eu já o amava tanto. Olhei seus pezinhos, claro, e por falta de entendimento do que se tratava e falta de experiência com bebês, nem achei tão grave ao ver. Nem imaginava que, a partir dali, iria iniciar uma luta. 

Meu esposo chegou para ficar com a gente e foi conhecer nosso Gabriel. Ele também estava muito feliz. Contei sobre o pezinho, mas ele também não teve noção do que se tratava. 

Em nenhum momento algum médico veio nos orientar de como seria o tratamento, o que era a deformidade e o que deveríamos fazer. A única coisa que fizeram foi chamar um ortopedista que estava de plantão no hospital que nos mandou voltar em 10 dias para iniciarmos o tratamento. Ficamos sem saber como seria! 

Espero que tenham me acompanhado até aqui. Contarei mais sobre a minha história em um próximo post. Quem mais aqui é mãe de crianças com PTC?


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