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Psicológa que trabalha diretamente com PCD. Seu olhar e tudo que precisamos entender.

Psicológa que trabalha diretamente com PCD. Seu olhar e tudo que precisamos entender.
Fernando Toledo Cardoso
nov. 30 - 7 min de leitura
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Pâmela Fernanda dos Santos, 34 anos, Formada em Psicologia pela Universidade Cruzeiro do Sul, Lato Senso em Psicologia Política pela Universidade de São Paulo e Formação em Psicologia Cognitivo Comportamental pelo Centro de Estudos em terapia Cognitivo Comportamental.

Atualmente atuo como Psicóloga em um Núcleo de Apoio para Pessoas com Deficiência, compondo a equipe técnica desenvolvendo um trabalho junto a equipe e familiares dos atendidos.

1° Psicóloga Pâmela, explique o trabalho que desenvolve na ACDEM (casa dos deficientes de Ermelino Matarazzo).

Primeiramente gostaria de explicar o que é a ACDEM, um núcleo de Apoio à Inclusão Social para Pessoas com Deficiência, conveniado a Prefeitura de São Paulo e tem como finalidade a Garantia de Direitos e a Inclusão Social da Pessoa com Deficiência a partir das suas necessidades individuais e coletivas. Um NAISPCD é um espaço de extrema importância para os PCDs, pois possibilita o desenvolvimento das capacidades adaptativas para a vida diária e prática, com o objetivo de promover qualidade de vida. O serviço não é apenas ao atendido, mas se expande para o âmbito familiar, onde no meu ponto de vista, é o primeiro lugar onde a inclusão deve começar.

Associação da casa dos deficientes de Ermelino Matarazzo

2° Como é lidar com o âmbito familiar de uma PCD?

Desenvolver o trabalho com as famílias é um desafio constante e diário. Costumo dizer que a ACDEM é uma escola, onde cada dia surge um desafio e um aprendizado diferente. É muito satisfatório desenvolver um trabalho com as famílias, porém é um trabalho constante marcado por muitos impasses, pois quando se fala em Pessoa com Deficiência e sua família, muitas vezes temos outras inúmeras deficiências que vão desde as econômicas, de direitos, conhecimento, entre outras. 

Geralmente as famílias chegam ao serviço sem muita informação, compreensão e muita negação da deficiência, sem falar que com uma negativa de vários espaços sociais, da saúde, educação e etc. A equipe técnica é quem faz esse primeiro contato com essa família e irá realizar todo um trabalho de acompanhamento sistemático. As demandas são diversas, e do meu ponto de vista às vezes me falta pernas para alcançar todas, mas isso também se deve a um fator bem maior, a desigualdade social e a dificuldade no acesso.

Acredito que uma das coisas mais fantásticas e importantes a serem trabalhadas com essas famílias é o empoderamento, trabalho as vezes que dá passos de formiguinha, mas que os resultados são protagonistas num processo de inclusão.

3° Na sua opinião, qual o maior obstáculo que uma PCD pode enfrentar na sociedade?

Pergunta difícil, ou melhor, eu diria que muito ampla, pois poderia ficar por horas escrevendo sobre os obstáculos e que algum poderia ficar de fora, pois vejo isso na prática do dia-a-dia, o quanto temos que estar atentos para olhar além da deficiência. 

Bom, mas vou tentar responder com o pouco que aprendi estando dentro desse universo, tão vasto de aprendizado. Resumidamente, acredito que o maior obstáculo é a invisibilidade da Pessoa com Deficiência. Embora seja possível notar avanços nos processos de inclusão, ainda falta muita informação e muitas vezes essas informações disponíveis são mais designadas a um grupo. Um exemplo disso é em relação ao mercado de trabalho, as empresas muitas vezes querem contratar pessoas com uma deficiência física e quando falamos de deficiência intelectual, muitas das vezes abre uma lacuna, mas ao meu ponto de vista é falta de conhecimento o que leva a fantasia e ao preconceito.

Vivemos em uma sociedade que não há muito tempo, colocava os deficientes junto às pessoas com transtornos mentais, em hospitais psiquiátricos vivendo em condições precárias. Embora exista uma luta contra tal conduta e leis de garantias de direitos, esse passado deixou marcas na nossa sociedade, que hora olha o deficiente como Louco, e hora como um coitadinho. Em minha opinião só existe um método para quebrar esse paradigma, o conhecimento. Sem conhecimento, não há espaço para uma transformação social, não há leis realistas, não existe protagonismo e muito menos uma real inclusão que se sustente. Eu preciso aprender mais, a saúde, a família, a escola e a sociedade como um todo. Só assim o deficiente terá voz, pois quando conhecemos e vivenciamos dentro desse universo, é possível ver por trás de toda fantasia construída, um rio de possibilidades.

 

4° Ainda sobre as dificuldades encontradas, queremos saber o quanto seu serviço de psicologia pode contribuir no desenvolvimento da pessoa com Deficiência e sua família?

A Psicologia pode contribuir desmistificando a negação e as fantasias, levando orientação e informação sobre a deficiência, através da psicoeducação. É imprescindível trabalhar o fortalecimento de vínculos familiares e o empoderamento, para garantia de direitos. Um psicólogo pode trabalhar para que haja um olhar diferenciado, visando as potencializações acima das limitações, tanto com os familiares, com a pessoa com deficiência e toda a sociedade. 

 

5° Qual a importância de unidades iguais a ACDEM, que desenvolvem um trabalho específico com as pessoas com Deficiência?

Um NAIPCD é um passo importante para o acesso da pessoa com deficiência na sociedade, um espaço onde podem ser vistos e seus familiares tomam conhecimento Direitos e deveres tão essenciais. O trabalho desenvolvido no Núcleo abre portas e o objetivo é fazer com que a pessoa com deficiência alcance um lugar que lhe é dado por direito.

6° Em todos esses anos de serviços prestados, qual foi o seu maior desafio?

O maior desafio é vivenciar a impotência de estar diante de um caso super complexo, com direitos violados ao extremo e ter que lidar com uma justiça burocrática e demorada para tomar decisões. Às vezes é frustrante enquanto profissional não ter amparo suficiente de uma rede de serviços preparada, eficaz e comprometida.  

7° Agora para concluir, o que você acredita que precisa mudar para uma sociedade mais inclusiva?

Acredito que falei um pouco disso acima, e continuo a afirmar que em minha opinião é a visibilidade da Pessoa com Deficiência. É preciso profissionais preparados na saúde, na educação, entre outros espaços que deveriam ser comum a todos. Como já dizia Paulo Freire: “ A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades”. Ninguém conhece aquilo que não vê.

 

Agradecemos a Psicóloga Pâmela Fernanda pela Participação especial.


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